Vai haver uma manif no dia 12 de Março, convido todos a ir e a participar. Não é uma manifestação de esquerda nem de direita, por isso espero que todos oportunistas que se tentem apropriar dela sejam corridos a pontapé.
O mote para esta manif parece ter sido uma canção, a canção "parva que sou" dos Deolinda, que por isso, tem sido vilipendiada por tudo o que é opinião do sistema, que, como de costume, tem receio de tudo o que possa afectar o seu status quo. Muitos até descobriram um até agora talento escondido, o de crítico de música, não se coibindo de dar opiniões técnicas sobre a melodia e a letra, que acusam de simplista entre outros mimos. Ora música é o que eles nos estão tentar dar, não se iludam.
Claro que há também os aliados de ocasião, que são aqueles que serão sempre contrários a algo que lhe cheire a maioritário, pensam que dessa forma trazem respeitabilidade às suas opiniões “independentes”. Neste caso só põe a nu essa estratégia.
Comum aos dois, é a sua incompreensão para com esta multidão de gente que se sente injustiçada e identificada com uma música tão “pobrezinha”. Não compreendem, porque, para muitos deles esta realidade não existe, não é a deles.
No meio de tanta iniquidade e baboseira escrita, foi escrito este excelente editorial pelo Pedro Guerreiro, que capta como nenhum o que está em causa e que podia muito bem ser adoptado como manifesto do movimento:
Os Deolinda não estão contra as propinas, não abrem trincheiras, não são sequer panfletários. Isto não é um movimento, é um não-movimento, o que já lhes deu a candura de um não agressor, resgatando dos mesmos que infamemente aniquilaram a "Geração Rasca" a simpatia dos que têm pesos na consciência. Hão-de tentar instrumentalizar isto contra o neoliberalismo ou contra o comunismo, contra a esquerda ou contra a direita, mas é mais puro: é política de há 200 anos, de Rousseau, de Tocqueville, dos vértices libertadores da Revolução Francesa: igualdade, fraternidade, liberdade. Fala-se do Maio de 68, compara-se à espontaneidade do Egipto, confirma-se a força não de um líder, mas das redes sociais. Haverá revolta? Ela será de arame farpado ou de veludo? Ficaremos pela melancolia?
Esta canção é uma carta enviada do futuro. Não é um aviso, é uma súplica. Salve, Deolinda.
Pedro Santos Guerreiro no Jornal de Negócios