publicado por vincent | Domingo, 12 Fevereiro , 2012, 12:39
eu - gosto de ti
ela - tshi, não gostas nada
eu - gosto mesmo, estou apaixonado por ti
ela - não estás nada
eu - estou mesmo, amo-te miúda
ela - como podes ter tanta certeza disso?
eu - a minha piça não se cansa de me lembrar a toda a hora que estou contigo
ela - não gosto de piça, é uma palavra feia
eu - sim, mas o amor é lindo...
ela usava uma peruca de um loiro platinado
e tinha a face carregada de rouge e pó
e não economizava no batom
traçando uma enorme boca pintada
e seu pescoço era coberto de rugas
mas ainda tinha o rabo de uma garota
e as pernas eram boas.
ela usava calcinhas azuis que eu baixei e
ergui seu vestido, e à luz bruxuleante da TV
tomei-a de pé.
enquanto nos digladiávamos ao redor do quarto
(estou fodendo uma cova, pensei,
trazendo mortos de volta à vida, maravilhoso
tão maravilhoso
como comer azeitonas geladas às 3 da manhã
com metade da cidade em chamas)
gozei.
vocês podem ficar com suas virgens, rapazes
dêem-me velhas gostosas no alto dos seus saltos
com rabos que esqueçam de envelhecer.
claro, você tem que dar o fora depois
ou ficar muito bêbado, o que é a mesma
coisa.
bebemos vinho por horas e assistimos tevê
e quando fomos para a cama
para dormir
ela não tirou os dente da boca
a noite toda.
Charles Bukowski, O Amor é um Cão dos Diabos
(Via Cantinho do Ócio)
Sentado na mesa dos fundos, conservador nos gostos, pedia sempre o mesmo, o costume, enquanto isso observava (controlava) quem pela porta entrava, esperava secretamente por ela, mas ela nunca mais entrou desde que o deixou. Homem demasiado novo para o rosto usado de aspecto enrugado que possuía, a cada ruga correspondia uma mulher, eram as suas cicatrizes, as provas de seu amor que por elas sentira e que entretanto passara, deixando o rasto. O culpado tinha sido sempre o mesmo, o seu coração juvenil, imaturo e sempre voluntarioso, adicto em sentimentos fortes que invariavelmente provocavam ressacas, cada vez mais fortes, no seu corpo já de si fragilizado. Mas tinha chegado o tempo de dizer basta, já não dava para suportar mais, pensou em suicídio, mas acobardou-se à ultima hora, estava indeciso na forma de executar e tinha horror a sangue e pavor a sofrimento, engendrou então um plano de envenenamento selectivo silencioso do culpado, mas em vez de cicuta optou por cloreto de sódio, encontrava-se mais fácil, comprava-se na mercearia, trazia sempre quatro pacotinhos no bolso que despejava, duas vezes por dia, a gosto, por cima do costume, até este deixar do ser.
O amor é uma coisa muito estranha, que todos os dias nos acorda, depois de sonhos inequívocos, a lembrar-nos que estamos condenados à pessoa que amamos. E ficamos, por estarmos apaixonados, convencidos. Que o nosso inteiro coração, por estar ocupado por ela, está entregue a expandir-se ilimitadamente por causa disso, por uma só pessoa.
O amor - que foi, nalgum dia ou em qualquer outra vida que se teve, enquanto se estava distraído, uma prova de se estar vivo, uma maneira de chamar e de pertencer só para poder fazer parte da palavra - revela-se, ao ver-se tão feio e egoísta, uma prova de humanidade, que também dói.
Dói tanto o amor desencontrado como aquele que se encontra. Cada apoteose antecede um plano de fuga. Só os sentimentos de cada um, excluindo os outros (a começar por aqueles que têm os que amamos) conseguem concertar a emoção de que se foge e, ao mesmo tempo, na qual se encontra refúgio.
Amar antes de Agosto começar é como aceitar, de abraço aberto, o frio de Dezembro - e agradecer, apesar da desilusão do tempo que está, o conforto de saber que não é Inverno nem Outono. Há calma.
Em Agosto vai haver tempestades; vai chover; vamos ser confundidos tanto como o tempo consegue, presos ao passar das nuvens e ao azular do céu, surpreendidos e encantados, como se sob o efeito de um ilusionista.
O amor é como o ano. Agosto é como um dia. O tempo o amor começam enquanto continuam. É quando o amor continua que se está mais apaixonado.
Miguel Esteves Cardoso
Isto é português e é sobre uma das mais belas vilas de Portugal, Óbidos. Excelente trabalho.
Não me lembro de ser novo. Não tenho nenhuma memória de me sentir na força da vida, ou no vigor da idade, ou nos anos dourados. Mesmo quando era adolescente. Nesse sentido, sempre fui bastante velho (…). Eu fui criança. Não tenho é noção de ter sido jovem. Saltei de criança para velho muito rapidamente
Pedro Mexia (apanhado no Ípsilon)